Este homem têm um dom, um verdadeiro dom. A PALAVRA. Este senhor, melhor que ninguém, faz-me vibrar com o que escreve. Sou, por isso, sua seguidora incondicional e absorvo cada palavra que escreve de forma clara e objectiva. Este é mais um exemplo da sua escrita genial. O texto é longo mas vale a pena o tempo gasto com cada uma das palavras.
"Ao que dizem todos os jornais
menos um, o alegado estripador de Lisboa é, afinal, apenas um alegado idiota. Na
escala de abominações, a idiotia aparece muito abaixo da estripação, e por isso
o país desinteressou-se rapidamente do caso: os portugueses têm raras
oportunidades de conhecer pessoalmente um estripador, mas todos os dias
contactam com idiotas. Mais uma vez constato que sou indigno de pertencer a este
povo, uma vez que é precisamente agora que o episódio começa a entusiasmar-me.
Não tenho muito interesse em estripadores, mas os idiotas exercem sobre mim um
fascínio inevitável. Ainda não podemos dizer ao certo quantos idiotas existem no
caso do alegado estripador, mas há dois que emergem imediatamente, e são pai e
filho. Feliz coincidência ou hereditariedade? Não sabemos. Mas a concentração de
idiotia deve ser celebrada, tanto por razões humorísticas como higiénicas:
quanto mais circunscrita a uma mesma casa, maior a intensidade (donde, mais
humorismo) e menor o risco de contágio (donde, mais
higiene).
Antes de tudo, há que admitir que,
se é verdade que a justiça em Portugal é fraca, não é menos verdadeiro que os
tribunais têm azar. Ou lhes aparece um criminoso que, por muito que as provas o
desmintam, nega responsabilidades no crime, ou aparece um palerma que, por muito
que as provas o desmintam, reivindica responsabilidades no crime. No fim, em
princípio, ficam ambos em liberdade. Pergunto-me sempre como é possível que haja
sobrelotação das cadeias num país em que é tão difícil ser
preso.
De acordo com a imprensa, o
idiota-filho denunciou o pai para poder entrar num reality show. Noutros tempos,
os filhos denunciavam os pais à PIDE; hoje, denunciam à TVI. Todo o mundo é
composto de mudança, mas os bufos são sempre bufos. Como o idiota-filho desejava
ficar preso durante três meses numa casa, tentou fazer com que o idiota-pai
ficasse preso durante 30 anos noutra. Édipo matou o pai por causa de uma querela
no trânsito; o idiota-filho denunciou o idiota-pai por causa de um programa de
televisão. São ambas histórias trágicas, mas a denúncia talvez seja mais cruel
uma vez que, não sendo o idiota-pai titular de um cargo público, a confirmar-se
a culpa teria mesmo de cumprir pena de prisão.
É interessante referir que, para
serem admitidos no programa, os concorrentes têm de revelar à produção alguns
segredos. "O meu pai é o estripador de Lisboa" era o segundo segredo da lista do
idiota-filho. Os jornais não revelam qual era o primeiro, mas tudo o que fique
aquém de "A minha mãe é um senhor de bigode que invadiu a Polónia em 1939" não
merece ultrapassar o segundo classificado."
adoro o Ricardo, se pudesse casava com ele! e tem toda a razão no que diz, este país está feito para os criminosos, ponto.
ResponderEliminarDe facto, idiotas há muitos, não admira que a história tenha morrido em 3 tempos.
ResponderEliminarLollllll.
ResponderEliminarAdorei, querida Marta! Ainda bem que colocaste aqui o texto!
Imagino realmente qual seria o primeiro segredo!! :P
Excelente mesmo. Abraço
ResponderEliminarSofro do mesmo problema que ele...nao sou digna deste povo que tambem prefiro os idiotas aos estripadores!
ResponderEliminarExcelente texto
Belíssimo texto, adoro o Ricardo, é um génio a escrever ;)
ResponderEliminarBeijinho*
também gosto muito do Ricardo ele é sem dúvida o melhor dos gato!!
ResponderEliminarEstá mesmo genial, ainda bem que partilhaste.
ResponderEliminar